A entrevista do ministro-chefe da Casa Civil ao Jornal Nacional teve algo dos anos 1970.
Parecia que os novos recursos de edição digital não existiam. O som direto da entrevista era péssimo. Dava impressão de um depoimento às escuras.
A montagem – a palavra é essa, muito mais apropriada do que edição – foi (falsamente) tosca.
O Jornal Nacional, nada inábil tecnicamente, foi muito astuto no quesito montagem, porque deu a impressão de que o combinado não foi caro.
Os cortes foram ríspidos. A única sutileza da montagem se deu no momento em que o ministro quis beber água e não o fez. Palocci flertou com o copo – copo não, taça – e não chegou a sorver o conteúdo.
Palocci teve desempenho regulamentar durante a entrevista. Segundo ele, não cometeu crime, emitiu nota fiscal de tudo que fez, e é um homem probo.
Em 2005, Palocci teve desempenho semelhante. Deu uma entrevista coletiva na qual se portou como um elemento estranho ao governo que era vítima de canhonaços e que se tornou, após a saída do mesmo Palocci, o governo mais amado da história do Brasil.
O sem-número de cortes da montagem que o Jornal Nacional fez da entrevista nos faz pensar naquilo que foi discutido nos bastidores.
Na janela que a câmera registrava atrás do ministro, os trabalhadores e trabalhadoras continuavam vivendo a vida, nos ônibus e nos automóveis.
Só faltaram pedestres, mas isso é Brasília.
A entrevista
Belas observações, presidente.
“O governo está tocando a sua vida, as coisas vão rolando normalmente” – Palavras do Palocci. Quer dizer = Roubalheira, Roubalheira e mais roubalheira. É greve de professores. Bombeiros presos por cometerem o crime de ganhar uma miséria é o cidadão marcando consulta em posto de saúde com clinico geral pra daqui a um mês. É, realmente as coisas vão rolando normalmente