Deu na Folha de S. Paulo hoje. Entidades patronais produziram e colocaram no ar um comercial de TV em que afirmavam que greve e mobilizações de trabalhadores geram aumento de impostos e de tarifas.
Entidades sindicais de trabalhadores entraram com uma liminar e a Justiça do Trabalho, consciente de que greve é um direito constitucional e que não está, nem remotamente, na raiz de aumento de impostos, proibiu a veiculação.
Esse comercial é uma clara prática antissindical, uma coerção à liberdade de organização dos sindicatos e, além de tudo, uma mistificação.
Greve não gera aumento de impostos e sequer de preços. Basta lembrar que o custo da mão-de-obra, aqui no Brasil uma das mais baixas entre os países industrializados, responde por uma pequena parcela do preço final dos produtos, como demonstrou, dias atrás, a insuspeita Fiesp (clique aqui para ler estudo da federação paulista da indústria).
A verdade é que os salários estão sempre atrás dos índices de produtividade e de lucro das empresas, ou seja, os preços estão sempre em vantagem sem que os ganhos sejam repartidos de maneira justa. Quando o trabalhador e a trabalhadora fazem greve, estão tentando recuperar um pouco do que ajudaram a produzir.
As entidades filiadas à CUT organizam greves somente quando as negociações emperram e os patrões se mostram inflexíveis. Mesmo assim, são dezenas, às vezes centenas de greves todo o ano. Se produzissem aumento de impostos, a carga tributária em relação ao PIB teria crescido muito, o que não é verdade. Essa relação carga tributária versus PIB continua praticamente inalterada desde 2005, como demonstra levantamento do economista Amir Khair (clique aqui para ver o estudo).
O que se trata aqui é distribuição de renda contra a fúria de lucro dos capitalistas. O resto é comercial de qualidade duvidosa.
Se o que os empresários de Mato Grosso dizem for verdade, o que dizer do aumento da passagem de ônibus em Teresina (PI), que passou de R$ 1,90 para R$ 2,10 sem que tivesse havido greve?
Pior: esses empresários do Mato Grosso seriam capazes de dizer que os estudantes que agora protestam contra o aumento, com mobilização de rua, vão gerar um novo aumento. Ridículo, não? (leia sobre os protestos em Teresina clicando aqui)